O significado da palavra vem do termo “hermético”
(secreto, fechado de tal maneira que nada escapa), cuja qualidade do “segredo”
se observa ser necessário para uma eficiente transmissão dos seus ensinamentos.
Hermetismo é o estudo e prática da filosofia oculta e
da magia associados a escritos atribuídos a Hermes Trismegisto, “Hermes
Três-Vezes-Grande”, uma deidade sincrética que combina aspectos do deus grego
Hermes e do deus egípcio Thoth. Estas crenças tiveram influência na sabedoria
oculta européia, desde a Renascença, quando foram reavivadas por figuras como
Giordano Bruno e Marsilio Ficino. A magia hermética passou por um renascimento
no século XIX, na Europa Ocidental, onde foi praticada por nomes como os
envolvidos na Ordem Hermética do Amanhecer Dourado e Eliphas Levi. No século XX
foi estudada por Franz Bardon.
O
Hermetismo surgiu no antigo Egito através do maior de todos os mestres, Hermes
Trismegisto (Três vezes O Grande). Supõe-se que viveu em torno de 2700 a.C. por
300 anos, quando o Egito estava sob o domínio dos “Reis Pastores” (Iksos,
Hyksos ou Irschu), sendo contemporâneo de Abraão. Ele foi o pai da Ciência
Oculta (Ocultismo), o fundador da Astrologia e o descobridor da Alquimia. Os
egípcios logo notaram os seus poderes e sua sabedoria e o deificaram sob o nome
de “Thoth”. Mais tarde o antigo povo grego também o deificou sob o nome de
“Hermes” (Deus da Sabedoria). Como a origem dos
conhecimentos herméticos data de alguns milhares de anos, é natural que durante
tão longo tempo hajam ocorrido grandes transformações, tanto no que diz
respeito aspectos organizacionais quando no contexto dos próprios ensinos.
Disto resultou um grande número organizações no passado assim como no presente
intitulado de “Ordem Hermética”. Os conhecimentos e a estruturação de algumas
ordens são oriundos das “Escolas de Mistérios do Antigo Egito" (Hermópolis).
Naturalmente o termo “ordem” só apareceu depois da decadência do Egito, quando
grupos de estudiosos deram nomes às organizações que transmitiam o conhecimento
deixado por Thoth. Sempre existiram muitas organizações que se intitularam de
“Sociedade”, ou de “Ordem Hermética”, e também na atualidade. Muitas trazem
ensinamentos autênticos, embora algumas atribuam o nome “hermético” a conceitos
de grupos ou meras fantasias. As Ordens Herméticas que ficaram consagradas ao
longo dos séculos foram a “Ordem dos Cavaleiros Templários”, a “Maçonaria” e a
“Ordem Rosacruz”.
Hermes
era filho de Zeus e de Maia (a mais jovem das Plêiades da mitologia grega).
Nasceu num dia quatro (número que lhe era consagrado), numa caverna do monte
Cilene, ao sul da Arcádia. Divindade complexa, com múltiplos atributos e
funções, Hermes foi de início um deus agrário, protetor dos pastores e dos
rebanhos. Um escrito de Pausânias deixa bem claro esta atribuição do filho de
Maia: “Não existe outro deus que demonstre tanta solicitude para com os
rebanhos e para com o seu crescimento”. Mais tarde, os escritores e os poetas
ampliaram o mito, como por exemplo, Homero, nos seus poemas épicos Ilíada e
Odisséia. Na Odisséia, por exemplo, o deus intervém como mago e como condutor
de almas (nas Rapsódias X e XXIV). Protetor dos viajantes, Hermes é também o
deus das estradas. Nas encruzilhadas, para servir de orientação, os transeuntes
amontoavam pedras e colocavam no topo do monte a imagem da cabeça do deus. A
pedra lançada sobre um monte de outras pedras simbolizava a união do crente com
o deus ao qual elas estavam consagradas. Considerava-se que nas pedras do monte
estavam a força e a presença do divino. Para os gregos, Hermes regia as
estradas porque andava com incrível velocidade, por usar as sandálias providas
de asas. Deste modo, tornou-se o mensageiro dos deuses, principalmente de seu
pai, Zeus. Conhecedor dos caminhos, não se perdendo nas trevas e podendo circular
livremente nos três níveis (Hades ou infernos, Terra ou telúrico e Paraíso ou
Olimpo), Hermes tornou-se um deus condutor de almas. A astúcia, a
inventividade, o poder de tornar-se invisível e de viajar por toda a parte,
aliados ao caduceu com o qual conduzia as almas na luz e nas trevas, são os
atributos que exaltam a sabedoria de Hermes, principalmente no domínio das
ciências ocultas, que se tornarão, na época helenística, as principais
qualidades do deus. A partir deste ponto, Hermes se converteu no patrono das
ciências ocultas e esotéricas. É ele quem sabe e quem transmite toda a ciência
secreta. O feiticeiro Lúcio Apuléio declara em seu livro de bruxaria (De Magia)
que invocava Mercúrio (o Hermes dos romanos) como sendo aquele que possuía os
segredos da magia e do ocultismo. Hermes Trismegistos é o nome grego dado ao
deus egípcio Thoth, considerado o inventor da escrita e de todas as ciências a
ela ligadas, inclusive a medicina, a astronomia e a magia. Segundo o
historiador Heródoto, já no séc. V a.C. Thoth era identificado e assimilado a
Hermes Trismegisto, ao Três Vezes Poderoso Hermes. A pedra de Roseta, gravada
no ano 196 a.C. também identifica Hermes como Thoth. A tradução dos hieróglifos
das câmaras mortuárias do Vale dos Reis permitiu dividir os escritos atribuídos
a Hermes-Thoth em dois tipos principais: o Hermetismo “popular” que trata da
astrologia e das ciências ocultas, e o Hermetismo para os “cultos”, que trata
de Teologia e de Filosofia. Do renascimento até ao final do século XIX pouca
atenção foi dispensada aos Escritos Herméticos populares. Estudos recentes
mostraram, no entanto, que a literatura popular hermética é anterior ao
Hermetismo dito culto, e reflete as idéias e convicções dominantes no império
romano.
Os
Escritos Herméticos sobre Teologia e Esoterismo constam de dezessete tratados,
que compõem o Corpus Hermeticum. Este conjunto de Escritos reúne as compilações
feitas por Stobaeus e por Apuleius. A compilação de Apuleius for traduzida para
o Latim por Asclepius. Estes escritos são datados dos três primeiros séculos da
era cristã e foram escritos em língua grega, embora os conceitos neles contidos
sejam de origem egípcia. O Corpus Hermeticum reúne a Hermética e a Tábua de
Esmeralda. Estas duas obras são trabalhos estritamente herméticos sobre os
quais se fundam a ciência e a filosofia alquímicas. A Hermética consta de uma
série de livros, dos quais o mais importante é o "Livro I, Pimandro", que é um
diálogo de Hermes consigo mesmo. O Hermetismo foi estudado durante séculos
pelos árabes, e por seu intermédio chegou ao Ocidente, onde influenciou homens
como Albertus Magnus. Em toda a literatura Medieval e do Renascimento são
freqüentes as referências a Hermes Trismegistos e aos Escritos Herméticos,
estudados e aprofundados, principalmente, pelos Alquimistas e pelos Rosacruzes.
Para os Rozacruzes, Hermes Trismegistos foi um sábio. O Dr. H. Spencer Lewis,
escritor e Grande Mestre da Ordem Rosacruz, se referia a Hermes como uma pessoa
real. No mundo greco-latino, sobretudo em Roma, com os gnósticos e
neoplatônicos, Hermes Trismegisto se converteu num deus cujo poder varou os
séculos. Na realidade, Hermes Trismegisto resultou de um sincretismo com o
Mercúrio latino e com o deus egípcio Thoth, o escrivão no julgamento dos mortos
no Paraíso de Osíris, e patrono de todas as ciências na Grécia Antiga.
Em Roma,
a partir dos primeiros séculos da era cristã, surgiram muitos tratados e
documentos de caráter religioso e esotérico que se diziam inspirar-se na
religião egípcia, no neoplatonismo e no neopitagorismo. Esse vasto conjunto de
escritos que se acham reunidos sob o nome de Corpus Hermeticum, coleção
relativa a Hermes Trismegisto, é uma fusão de filosofia, religião, alquimia,
magia e astrologia, e tem muito pouco de egípcio. Desse Corpus Hermeticum muito
se aproveitou a Gnose (conhecimento esotérico da divindade, transmitido através
dos ritos de iniciação). Os gnósticos, com seu sincretismo religioso
greco-egípcio-judaico-cristão surgido também nos primeiros séculos da nossa
era, procuraram conciliar todas as tendências religiosas e explicar-lhes os
seus fundamentos através da Gnose. As sandálias de Hermes eram dotadas de asas,
separavam a terra do corpo pesado e vivente, e daí vem a importância simbólica
das sandálias depostas, rito maçônico que evoca a atitude de Moisés no monte
Sinai, pisando descalço a terra santa. Descalçar a sandália e entregá-la ao
parceiro era, entre os judeus, a garantia de cumprimento de um contrato. Para
os antigos taoístas, as sandálias eram o substituto do corpo dos imortais, e
seu meio de deslocamento no espaço. Em Hermes e Perseu, as sandálias aladas são
o símbolo da elevação mística. O caduceu significa em grego bastão de arauto.
Símbolo dos mais antigos, sua imagem já se acha gravada, desde o ano 2.600
a.C., na taça do rei Gudea de Lagash. São várias as formas e múltiplas as
interpretações do caduceu. Insígnia principal de Hermes, é um bastão em torno
do qual se enrolam, em sentidos inversos, duas serpentes. Enrolando-se em torno
do caduceu, elas simbolizam o equilíbrio das tendências contrárias em torno do
eixo do mundo, o que leva a interpretar o bastão do deus de Cilene como um
símbolo de paz. A serpente é um símbolo encontrado na Mitologia de todos os
povos. Todas as grandes idéias surgidas no início da Civilização foram
representadas pela serpente: o Sol, o Universo, Deus, a Eternidade. Também se
pode interpretar o caduceu como sendo o símbolo do falo ereto, com duas
serpentes acopladas. Esta interpretação do caduceu é uma das mais antigas
representações indo-européias, sendo encontrado na Índia antiga e moderna,
associado a numerosos ritos, bem como na Grécia, onde se tornou a insígnia de
Hermes. Espiritualizado, esse falo de Hermes penetra no mundo desconhecido em
busca de uma mensagem espiritual de libertação e de cura. Hoje em dia o caduceu
é o símbolo universal da Medicina.
O
esoterismo maçônico, com a sua tradução em rituais, símbolos e ensinamentos, é
criação de grandes pesquisadores, colecionadores de livros e de manuscritos
raros, e grandes estudiosos das culturas da antiguidade. Elias Ashmole,
Desaguilliers e Francis Bacon foram alguns destes homens, Rosacruzes e grandes
conhecedores do hermetismo e da transmutação alquímica dos metais, através da
Pedra Filosofal. Eles introduziram na Maçonaria os mesmos conceitos
filosóficos, utilizando agora os instrumentos da arte de construir, como
símbolos da regeneração e do aperfeiçoamento moral e espiritual do Homem.
Hermes Trismegisto foi, na Mitologia Grega, o deus que reuniu os atributos que
todos os grandes pensadores e iniciados desejaram transmitir às futuras
gerações. Ele foi um deus tão importante, que na cidade de Listra, a multidão
ao ver o milagre realizado pelo apóstolo Paulo tomou-o por Hermes e gritou
entusiasmada, pensando estar diante de um deus sob forma humana.
Os escritos herméticos são uma
coleção de 18 obras gregas, e as principais são o “Corpus Hermeticum”, a “Tábua
de Esmeralda”, o “Poimandres”, o “Asclépios” e a “Minerva Mundi” (Corê Cosmou),
as quais são tradicionalmente atribuídas a Hermes Trismegisto. Estes escritos
contêm os aspectos teóricos e filosóficos do Hermetismo em seu aspecto
teosófico. O período bizantino é marcado por outra coleção de obras herméticas,
que também são relacionadas ao Hermes Trismegisto, e contêm uma tradição
hermética popular a qual é composta essencialmente por escritos relacionados à
Astrologia, Magia e Alquimia. Esta versão popular encontra sustentação ou base
nos diálogos herméticos, apesar dele se distanciar da magia. A magia,
entretanto, não está distante das práticas realizadas no antigo Egito, a qual em
uma última análise é a fonte de todos os diálogos herméticos, pois o hermetismo
lá floresceu e, portanto estabelece uma conexão entre as duas Tradições
Herméticas: Filosofia e Magia. O livro “Caibalion” foi escrito no final do
século XIX, por três iniciados que registraram as Sete Leis do Hermetismo. Não
é um livro oriundo da era pré-cristã como se supõe. O Hermetismo consiste, de
forma sincrética, no estudo e prática da evolução e expansão da consciência
humana até à Consciência Divina, penetrando assim nos mais profundos mistérios
da Criação, o que ficou conhecido como “Iniciação” ou “Iluminação” no Oriente.